sábado, 21 de julho de 2007

A champanhe de César Borges

O magnífico reitor César Borges pode servir a champanhe a seus companheiros. A conta, naturalmente, será paga pelos cofres públicos. O curso de medicina veterinária para os assentados deve mesmo sair (isto é, se o Ministério Público Federal não conseguir impedir que essa grana toda seja gerenciada por quem tem situações pendentes na Justiça). Mesmo que, para isso, César Borges tenha de atropelar o artigo 38 do Regimento da Universidade (Art.38 - Salvo resolução da maioria dos conselheiros presentes, toda a matéria que envolva mérito deverá ser submetida previamente ao parecer da Comissão Permanente respectiva). Cabe agora aos professores Ernani Ávila, representante dos professores do Colegiado de curso, e José Fernando Gonzales, dos professores auxiliares, fazer valer o que disseram e apelar à Justiça. De qualquer maneira, César Borges levou o que queria e agora bebe sua Don Pérignon ao lado de seus camaradas de fé.
É engraçado que nem na reportagem do Diário Popular e nem na nota que a UFPel fez publicar em seu site a Fundação Simon Bolívar é citada. Justamente ela, que vai gerenciar a bolada, é ignorada por todos. Será que não seria bom quem orienta a reportagem pedir para fazer essa pergunta? Gostaria que a imprensa local perguntasse ao magnífico reitor se ele confia na Fundação Simon Bolívar, mesmo com os contratempos ocorridos no último convênio com a Universidade. É claro que isso jamais acontecerá. O nível de amizade entre diretores de jornal e a universidade não permitirá que essas perguntas ocorram. Espero também que o Ministério Público se lembre de quem se trata. E avalize ou não se essa entidade é idônea o suficiente para gerenciar verba pública.
De qualquer maneira, a cidadania foi prejudicada. O direito é de todos - e para todos. O sistema de cotas é uma bobagem que precisa acabar, principalmente quando o gerenciamento dessa verba será feito por fundações cuja ficha na Justiça deixa a desejar. Aliás, é intrigante que o Incra decida dar verba para uma fundação com problemas a resolver. É o Brasil ao contrário. Essa desfaçatez para com a coisa pública, essa certeza da impunidade, na verdade, impedem a construção de universidades públicas para todos, sem privilégios para raças, credos ou situações econômicas ou sociais.
Essa novela ainda não terminou. O Ministério Público tem a obrigação de investigar a Fundação Simon Bolívar antes que ela tome conta da verba (como aconteceu, em parte, com a verba que a fundação pegou para construir o shopping). Quem são seus diretores, como disponibilizam dinheiro para suas aventuras, e o andamento daqueles projetos que já foram aprovados e estão em andamento. Além disso, o reitor, apesar de estar com a taça na mão, precisa dar respostas à Justiça. E mais: compreender o que significa a palavra universidade, com toda a amplitude que ela tem. Além disso, entender que transparência na coisa pública é obrigação (quando vamos ter as portarias publicadas na íntegra? quando vamos ter os gastos de viagens do magnífico reitor expostos ao público? afinal, enquanto faltam salas para alunos da UFPel, o reitor viaja para lá e para cá sem prestar contas a nós, que as pagamos). O cidadão tem direito. E a melhor forma de exercê-lo é exigir dos governantes todas as explicações possíveis. Pelotas não pode se curvar a déspotas. De qualquer tipo. Vamos aguardar o que o Ministério Público Federal vai fazer.

Deu no Diário Popular:
Cidade: Conselho aprova curso para assentados
Luciara Schneid

Com 36 votos favoráveis e 20 contra, o Conselho Universitário (Consun) da UFPel decidiu pela implantação do Centro de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) e utilização imediata dos recursos de R$ 3,5 milhões repassados pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O anúncio foi feito por volta das 17h30min, após três horas de reunião entre os integrantes do Consun.Com isso, o convênio assinado no final do ano passado pelo reitor Cesar Borges e que prevê a criação de turma especial com 60 vagas para assentados da reforma agrária no curso de Medicina Veterinária começa a tomar forma. De acordo com o reitor Cesar Borges o passo inicial será o encaminhamento da decisão ao Conselho Coordenador do Ensino, da Pesquisa e da Extensão (Cocepe) e à Pró-Reitoria de Graduação, para que o projeto seja adequado às características da universidade.O cronograma para implantação do projeto passa a ser definido nos próximos 15 dias, diz Borges, como aplicação dos recursos, licitação das obras, construção dos prédios e seleção dos candidatos e professores. Segundo o reitor, a decisão interfere na forma como a universidade passa a se inserir nas políticas públicas. “Nas próximas reuniões começam a ser discutidas as cotas sociais, a exemplo do que já ocorre na UFRGS e UFSM.”
Atos de defesa e rejeição do lado de fora
Enquanto os conselheiros debatiam o tema, a portas fechadas, com o reitor, no auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (Faurb), do lado de fora, dois grupos defendiam no grito a sua opinião. De um lado, representantes dos assentados de reforma agrária e pequenos agricultores, vereadores, sindicalistas, representantes do Incra defendiam o acesso à universidade para todas as categorias e de outro, os estudantes de Medicina Veterinária condenavam a forma como o projeto foi conduzido pela reitoria e rejeitavam a intervenção do Governo Federal nos rumos da universidade.As três horas de espera viraram um debate a céu aberto e ao mesmo tempo uma disputa ideológica, com troca de ofensas verbais entre os dois grupos. O presidente do Diretório Acadêmico da Medicina Veterinária, Guinter da Cunha, destacava o privilégio oferecido a um determinado grupo para facilitar seu acesso ao Ensino Superior. “Todos os que estão aqui são filhos de agricultores e moram na Casa do Estudante por falta de condições financeiras e tiveram que estudar muito para passar no vestibular.”A representante do Movimento dos Sem Terra (MST), a agrônoma Patrícia Silva, destacou a importância deste curso para os assentados de reforma agrária, que pela primeira vez terão acesso ao Ensino Superior. “Não defendemos o Ensino Superior apenas para assentados, mas para os trabalhadores das fábricas, da indústria, agricultura familiar, negros, quilombolas, pescadores, para todos.” Dois conselheiros se retiram da votação
Menos de uma hora após o início da reunião, dois conselheiros, os professores Ernani Ávila, representante dos professores do Colegiado de curso, e José Fernando Gonzales, dos professores auxiliares, se retiraram da reunião. O motivo, uma observação feita no início da reunião de que o artigo 38 do Regimento Geral da universidade foi descumprido. “Antes de ser analisado pelo plenário, o processo deveria ser submetido à Comissão de Legislação e Normas, o que não ocorreu”, dizem os professores que são também advogados.Segundo eles, o reitor desconsiderou isso e colocou em votação se o projeto deveria ser submetido à Comissão. “Recusamos este tipo de posicionamento, é antijurídico, é ilegal”. Os conselheiros deixaram o local e prometem entrar na segunda-feira na Justiça, com uma ação civil pública, contestando a votação. O reitor Cesar Borges disse que a decisão do Conselho Universitário é soberana e o projeto foi aprovado por maioria e não acredita que a decisão possa ser revertida.
Projeto deve beneficiar assentados de todo o Brasil
O superintendente regional do Incra/RS, Mozart Dietrich, também esperou pelo resultado da votação do Consur, ontem, em frente à Faurb. Segundo ele, a polêmica gerada em torno da criação CDRS, foi cercada pela desinformação em relação ao projeto.Dietrich explica que a intenção não é criar um curso regular de Medicina Veterinária para assentados. A especialidade foi priorizada pela demanda por médicos veterinários nos assentamentos para atender principalmente a atividade leiteira. Essas primeiras 60 vagas podem ser disputadas por integrantes de mais de um milhão de famílias de 5,5 mil assentamentos de todo o País. Segundo ele, os recursos, na ordem de R$ 3,5 milhões serão utilizados para a construção de prédios modernos e aquisição de equipamentos, com benefício imediato dos estudantes das áreas agrárias.




Veja o que noticiou a UFPel:

Conselho Universitário aprova Veterinária para assentados e agricultores familiares
O Conselho Universitário da UFPel, órgão deliberativo máximo da instituição, aprovou nesta sexta-feira(20) a instalação do curso de graduação em Medicina Veterinária para assentados da reforma agrária e agricultores familiares. O curso será vinculado ao Centro de Capacitação e Desenvolvimento Rural Sustentável da UFPel e será realizado em convênio com o Incra e com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Foram 36 votos a favor, 20 contra e nenhuma abstenção.

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