sábado, 16 de fevereiro de 2008

Síndrome de Pollyana

Vou contar uma historinha: Pollyana era uma menininha que ficou órfã muito cedo e teve de ir morar com uma tia que até então nunca tinha visto. Para diminuir sua desgraça, ele inventou um jogo, o jogo do contente, que consiste em encontrar, a qualquer custo, algo de bom para o que de ruim acontecia, mesmo que, para isso, tivesse de se iludir. Abaixo, o editorial de hoje do Diário Popular de Pelotas.

Em meio às múltiplas e complexas atribuições, e com a firme disposição de reverter a crise estrutural gerada nos últimos 30 anos, o Governo do Estado volta-se para um dos nossos mais sérios problemas - como de resto do País -, que é a segurança pública. Ao lado da educação e da saúde, esse setor compõe o tripé sobre o qual se assentam as bases do processo de desenvolvimento econômico e social. Um pacote, constituído de 11 medidas básicas a serem implantadas nos próximos três anos, foi lançado na manhã de quinta-feira pela governadora Yeda Crusius, juntamente com o secretário de Segurança Pública, José Francisco Mallmann. O plano objetiva intensificar o combate à impunidade, qualificar os serviços e prover com veículos, armas, munição e demais instrumentos de trabalho os órgãos respectivos, culminando na valorização dos servidores da área e na reestruturação da Secretaria.De início, está prevista uma campanha publicitária institucional para dar visibilidade ao telefone 181, o disque-denúncia e de conscientização para diminuir os trotes para o 190 – prática absurda, na maioria das vezes simples brincadeira (de mau gosto), mas que congestiona os canais de comunicação urgente, em prejuízo do interesse coletivo. Não poderia ser mais oportuna a campanha.Não menos importante é a formação de uma força-tarefa, com quatro delegados e 50 agentes, que cumprirá um roteiro de trabalho em 16 cidades do interior para tentar concluir 27 mil inquéritos considerados prioritários, a partir da natureza dos crimes ou do clamor popular em torno da sua elucidação e punição dos culpados. O inaceitável é a impunidade, que frustra os anseios de justiça da sociedade.Nessa área, está prevista a nomeação de 242 escrivães formados pela Academia de Polícia, abertura de concurso para contratação de 50 delegados, 250 escrivães e 250 agentes, seleção por concurso para contratação de 78 peritos, além de 18 papiloscopistas, 18 fotógrafos criminalísticos e 19 auxiliares de perícia para servirem no Instituto Geral de Perícias. Outro setor de há muito em sérias dificuldades é o penitenciário. Será contemplado com 45 agentes e cinco agentes já concursados, mais 500 PMs Temporários, a serem contratados com brevidade, para a guarda externa de presídios. A Polícia Militar, representada pela Brigada Militar do Estado e carente de material humano, começa com o preenchimento de 52 vagas de capitão, para o que será autorizada de imediato a realização de concurso. A Zona Sul, conforme informação do titular da 18ª Delegacia Regional de Polícia a este jornal, receberá um reforço, embora pequeno, mas obviamente útil, nos efetivos da BM, assim como da Polícia Civil. Para cá também será enviada a força-tarefa para um mutirão contra a impunidade – que se espera para os próximos meses.A simples análise desse conjunto de medidas mostra um avanço modesto, dir-se-ia, acanhado, ante a dimensão do problema. Mas, o importante é que passaremos dos costumeiros discursos de outras administrações para o campo das ações concretas. Inspirado no modelo testado com sucesso em São Paulo, a governadora espera que o plano resulte na queda dos índices de criminalidade no Estado. E o secretário Mallmann não deixa por menos: “o Governo quer tornar a segurança pública do Rio Grande do Sul modelo no País como referência de paz social e garantia dos direitos fundamentais em dez anos”.Que os fados nos ajudem em mais essa empreitada, pois, necessidades é que não faltam.

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