quarta-feira, 14 de março de 2007

Mais iguais

A decisão do presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia, do PT paulista, de colocar em pauta a proposta de emenda constitucional que estende a abrangência do foro privilegiado para ex-autoridades processadas criminalmente é de um oportunismo ímpar. Crime é crime. E ninguém é obrigado a cometê-lo, seja lá em nome do que for. Ainda mais ocupantes de cargos públicos, cuja responsabilidade é ampliada pelo exercício do poder. Chinaglia, ao que parece, se inspirou em George Orwell. Primeiro, em 1984, no instante em que reformula o que afirmava em 2002, quando se opôs à mesma proposição feita pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso . E agora, em A Revolução dos Bichos, na qual adaptou o último dos últimos mandamento da Fazenda dos Animais: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros". Se o projeto for aprovada o projeto, os processos criminais de ex-autoridades tramitarão no Supremo Tribunal Federal. O que, convenhamos, é um benefício para os mais iguais.

Palimpsesto
Política é assim. O que se fala hoje, esquece-se amanhã. Ou pior, transforma-se em outra fala, numa outra escrita, como um palimpsesto eterno cuja nova ordem é sobreposta à antiga sem qualquer pudor.

Atenção
A aprovação desse projeto tem destino certo.

É pau
Trinta e quatro famílias de assentados arrancaram hoje, em Matarazzo, município de Pedro Osório, no sul do Rio Grande do Sul, mudas de eucaliptos que haviam plantado em suas propriedades. Incentivados pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), eles se aliam à idéia de que o eucalipto, planta considerada exótica por ser nativa da Austrália, é um mal a ser combatido nos pampas.

Conversa mole
Temos aí alguns problemas. Primeiro, os assentados plantaram eucaliptos para a Votorantim, a atual arquiinimiga do MST e da Via Campesina, ao lado da Aracruz Celulose (basta lembrar a covarde destruição completa de um laboratório de pesquisas da Aracruz há um ano por mulheres da Via). Se plantaram, é porque receberam uma contrapartida que lhes conviesse. Nesse momento de euforia pelo negócio realizado, nenhum dos assentados lembrou que o licenciamento fornecido pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) só permite projetos de agricultura familiar e exlui o plantio de árvores como o eucalipto, por exemplo.

Espantoso
Ao mesmo tempo, é de se espantar que assentados que lutaram por terras e pelo direito de produzir alimentos nelas tenham espaço disponível para plantar a árvore da discórdia. Ou não plantaram nada - e aí o programa de assentamento mostra sua falha mais gritante, que é o assentamento de pessoas que não têm a menor condição de levar um alqueire de terra adiante sem que sejam preparadas para isso - ou consideraram que o plantio de eucalipto era a solução mais prática e econômica para a manutenção dessas propriedades.

Cartilha
De qualquer maneira, o grande pai MST se ocupou de colocar o trem no trilho novamente. Chamou às turras os assentados e mandou que arrancassem as plantas. E mais, transformou o ato num evento midiático, com hora marcada e tudo.

Discussão
A proposta de plantar eucaliptos no pampa está longe de ser unanimidade, mas também está distante de ser um mal total à ecologia gaúcha. O pampa, assim como está hoje, nem sempre foi assim. Ele foi moldado às necessidades dos momentos. Da mesma forma, é de se analisar a conveniência da plantação de eucaliptos - naturalmente dentro de um projeto tecnológico que minimize qualquer dano ambiental - para as necessidades desse momento, e dos futuros também. Essa discussão precisa, como todas, ser mais técnica e desapaixonada para que a razão consiga sinalizar ações. Ações das quais não nos arrependamos depois. Existe dinheiro e destino em jogo.

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