segunda-feira, 12 de março de 2007

Cadela Preta

Nada agitou tanto os e-mails da redação do Diário Popular quanto a oitiva de testemunhas de acusação ocorrida hoje no caso da cadela Preta, amarrada a um carro e arrastada pela cidade por três estudantes universitários na madrugada do dia 9 de março de 2005.

Pedaços
A cadela, prenhe, foi reduzida a pedaços. Essa violência sem sentido é a mesma que levou marginais a arrastarem um garoto de seis anos no Rio de Janeiro, ou jovens a tocarem fogo no índio Galdino, em Brasília.

Ou seja
Essa violência tem como premissa a impunidade e a banalização dos atos - mesmo estes, gravíssimos, aplicados contra a própria humanidade - que apenas têm valor enquanto estão na mídia. Depois, só voltam à cena quando as luzes se voltam para algum depoimento ou julgamento ou outro holofote qualquer. Tudo não vale mais nada, e a demanda por emoções cada vez mais intensas pede sangue fresco a cada temporada. Que, por sinal, fica cada vez mais curta.

Aperitivo
Na verdade, crimes horrendos como estes servem apenas de aperitivo para o que virá depois. E sempre virá algo mais espetaculoso, mais emocionante, mais cruel e fantástico. É a vida no videogame. Só que dessa vez, os personagens são reais, e o sangue, vermelho e quente, escorre e mancha a tela do computador.

Desculpas
Encontrar desculpas como drogas ou bebidas para justificar as atitudes desses jovens é minimizar essa barbárie que adota como praxis o nihilismo ético e moral. São desculpas vencidas, que encontram guarida em advogados que compreendem a fragilidade da Justiça brasileira e a aproveitam em sua total amplitude para reduzir o crime a penas alternativas, algo como a singela prestação de serviços à comunidade. Contra a pedra, o pau.

Solução
Encontrar meios de inibir esses comportamentos é algo complexo. A punição resolve? Que tipo de punição?Pena de morte? A lei do Talião? Prisão perpétua? Como valorar a morte de um índio incendiado per seus semelhantes? Ou a de uma criança, reduzida a pedaços esgarçados contra o asfalto por sete quilômetros pos assaltantes? Ou até mesmo a crueldade contra a cadela Preta, uma entre as milhares que perambulam nas ruas de Pelotas cuja notoriedade foi conseguida por sua docilidade, oferecida de graça àqueles que a conheciam? A discussão maior deve ser colocada sobre a sociedade, num exercício sobre aquilo que se pretende para o futuro que já está aí, na esquina, à espreita de uma nova manchete de jornal.

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