quarta-feira, 18 de abril de 2007

Água sobre a ponte

Hoje tem sessão de leitura no blog. Leia isto, publicado na edição de 18 de abril no Diário Popular de Pelotas:
Cidade: Água está em condições ideais, por Ivelise Alves Nunes
O Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep) conseguiu inibir - e deixar nas condições ideais - a presença do manganês na água que chega aos consumidores com a aplicação do permanganato de potássio. A afirmação é do diretor-presidente Ubiratan Anselmo. Há cerca de 15 dias a situação está normalizada e o número de queixas praticamente zerou na autarquia. Entretanto, esclarece Anselmo, nas localidades onde, porventura, a água ainda apareça um pouco turva, pode existir alguma concentração do metal em determinados pontos da tubulação. "Se isto ocorrer, o consumidor pode nos procurar", adianta.Mas o trabalho do Sanep não pára por aí. Como a substância ainda está presente na própria barragem Santa Bárbara foi necessário dragar o local. De acordo com o presidente da autarquia, os técnicos continuam desenvolvendo as ações recomendadas pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS), a fim de manter a água em boas condições e eliminar o metal nos pontos onde ele ainda se concentra, como por exemplo, a própria barragem. Para solucionar o problema, o Sanep tem gasto em média R$ 15 mil mensais na aplicação do permanganato de potássio e em torno de R$ 7 mil com a dragagem.Anselmo comenta ainda que outra ação desenvolvida pela autarquia para garantir a qualidade na água que chega aos pelotenses é a limpeza nos reservatórios, serviço que há muitos anos não era feito na cidade. O trabalho já foi executado no bairro Lindóia, no R4 - localizado na rua Andrade Neves com Pinto Martins -, no R5 - na rua Frontino Vieira, no Fragata - e na Guabiroba. Na próxima semana, os técnicos chegam ao R3 - na Andrade Neves com Conde de Porto Alegre.Também se encontra em fase de conclusão o projeto que prevê a construção da lagoa de tratamento dos efluentes no Sítio Floresta, próximo à rua Leopoldo Brod. O custo total será definido tão logo o projeto seja terminado, mas a certeza é de que as obras devem ser iniciadas ainda este ano, enfatiza Anselmo.
ORIENTAÇÕES
A bioquímica do Sanep, Isabel André, garante que a água está nas condições ideais para ser consumida. "Se ela não estiver turva - quando isto ocorre as pessoas ficam com receio - pode ser bebida tranqüilamente", enfatiza. Segundo ela, foram monitorados 60 pontos diferentes da rede de abastecimento e avaliados diversos aspectos - alumínio, ferro, flúor, o próprio manganês - e os resultados foram satisfatórios. "Todos os índices estão dentro dos parâmetros considerados normais pela legislação", diz.Na conta de água deste mês, os consumidores devem receber o relatório anual do Sanep referente ao ano de 2006 - conforme determina a legislação - e um esclarecimento sobre o problema do manganês. Em maio será encaminhado outro comunicado, com os procedimentos que devem ser adotados para que seja feita a limpeza dos reservatórios domiciliares, ou seja, as caixas d´água.

Leia agora isto, publicado em editorial ditado no dia 3 de abril, no Diário Popular:
A região de Pelotas tem abundância de água, uma característica geográfica que precisa ser plenamente valorizada. Além de se localizar às margens do Oceano Atlântico - o que facilita o comércio com o exterior e o desenvolvimento da pesca - possui grandes lagoas (Patos e Mirim), além do extenso canal São Gonçalo, um conjunto que tem importância logística como hidrovias. E há muitos grandes rios, como o Camaquã, Pelotas, Piratini e Jaguarão. São águas importantes para a irrigação de lavouras - um potencial absurdamente não aproveitado, para resolver o grave problema das estiagens. Todo esse manancial é, como recurso hídrico, um grande privilégio natural que a Zona Sul possui.Considerando as atuais perspectivas mundiais quando à disponibilidade de água doce e a previsão de sua insuficiência para atender à demanda, torna-se evidente a necessidade de as lideranças regionais dedicarem especial atenção a projetos que preservem os referidos recursos hídricos, mantendo-os em boas condições de qualidade. Isso significa aproveitá-los em benefício da região, por meio de gestão técnica permanente. Entre as obras que objetivam a utilização dessas águas para solucionar problemas da região, destacam-se a barragem-eclusa do São Gonçalo, que, inclusive, evita a salinização da Lagoa Mirim, e a que represa as águas do arroio Santa Bárbara, formando imenso lago, que, através da estação de tratamento (ETA), abastece de 40% a 50% da cidade de Pelotas. Surgiu, recentemente, problema de excesso de manganês nas águas do Santa Bárbara. Segundo informação do Sanep, problema causado pela estiagem que afeta a região nos últimos dois anos e não permite a renovação da água do reservatório. Do lodo acumulado, sem ser removido durante os 40 anos de existência da barragem, resultou a formação de manganês, em dado momento, além do normal. Também vem contribuindo para comprometer a qualidade da água o lançamento, no lago, de esgoto residencial e de resíduos industriais, que chegam à barragem através da Sanga da Barbuda.O Sanep, seguindo orientação técnica, e tão logo o remédio foi indicado, recorreu à aplicação de substância química para eliminar a impureza da água tratada pela ETA; passou a trabalhar em tempo integral nessa operação e informa que faltam apenas 10% das redes a serem limpas. Para fazer as descargas, acrescenta fonte da autarquia, a rede é rompida e a água é desprezada até que a coloração turva desapareça. Só então é feita a religação da rede ao reservatório.A poluição na área da ETA do Santa Bárbara evidencia a necessidade de, doravante, intensificar e ampliar o monitoramento da água em todos os pontos do lago. Uma permanente análise do líquido, acompanhada de fiscalização das margens da barragem, evitará que qualquer tipo de poluição se manifeste e atinja níveis acima do normal. Ao mesmo tempo, a situação está a exigir ações específicas, com urgência, para acabar com o problema do lançamento de esgoto e resíduos industriais no referido lago. Um trabalho conjunto do Sanep e da Patrulha Ambiental da Brigada Militar, feito permanentemente, poderá impedir que a irregularidade se perpetue, em detrimento do interesse da população.


Interessante... Em nenhum lugar da reportagem foram apresentados os "índices satisfatórios" que garantem a qualidade da água. Será que eles são secretos? Quem fez as análises da água? Quando? Onde? Também não existe nenhum consumidor que afirma que a situação voltou ao normal. Talvez seja por isso que a notícia de que a água está em condições ideais está timidamente colocada numa chamada de pé de página na capa do jornal. Quanto ao editorial, ditado por uma versão oficial dois dias depois de uma segunda reportagem que alertava para o problema, bem, cada pelotense que interprete da maneira que quiser. O fato é que o prefeito Fetter Jr. não gostou das reportagens (aliás, demonstrou insatisfação com todas aquelas que foram em defesa do cidadão) - sua família é acionista importante do jornal - e mandou que se parassem as notícias de que a água estava suja. Na verdade, ele tem muita razão: dar tiro no pé não é inteligente e pode atrapalhar seu projeto político de reeleição. É claro que muita gente bacana "torce pela população" (como se não fizesse parte dela), mas isso é insuficiente para colocar fim ao problema ou alardear que tudo está sob controle. O consumidor deve ficar atento às explicações oficiais que virão na conta de água - e guardá-las para usar na próxima eleição. Principalmente aqueles que têm de conviver com o problema e engolir a água suja de Pelotas.

Ministério Público
A Promotoria Pública ainda não teve a iniciativa de saber o que aconteceu com a água suja de Pelotas? Não teve a curiosidade de saber desde quando o problema começou, as providencias que foram tomadas - ou não - mandar fazer um laudo independente? Enfim, não teve interesse em atuar como um defensor público de fato? Provavelmente, os promotores estão ocupados com os problemas dos vestibulares da UFPel, do CAVG e de todas as trapalhadas da universidade pública comandada pelo reitor Cesár Borges.

Câmara
Da mesma forma, os vereadores pelotenses ainda não se articularam para formar uma CPI para investigar o problema? Afinal, eles defendem quem? Aliás, sua missão constitucional é fiscalizar os atos do Executivo. Em Pelotas, isso acontece de forma invertida...

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